"Só, sem caminho certo e muito inquieto de mente" Lorenzo Lotto

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Homofobia e a janela aberta

"Eu estava em uma campina, era uma campina grande e triste onde não havia vegetação alguma, e não me parecia ser nem dia, nem noite.
Eu passeava com meu irmão (...).
Conversávamos e encontrávamos outros passantes.  Falávamos de uma vizinha que tínhamos antigamente, e que, desde que morava naquela rua, trabalhava sempre com a janela aberta.  Ao mesmo tempo que conversávamos, sentíamos frio por causa da tal janela aberta."

Esse texto contém uma idéia que ilustra bem o que eu penso da homofobia, bem como de vários outros preconceitos.  Não que esse tenha sido o objetivo do autor.  É só um sonho.  Esse trecho é o início do sonho de Jean Valjean, personagem principal do clássico memorável de Victor Hugo, Os Miseráveis, que estou finalmente lendo agora.  Jean tem esse sonho no momento em que tenta decidir se faz a coisa certa ou se protege a si mesmo.  Ou, em suas palavras, se fica no paraíso e torna-se demônio, ou se volta para o inferno e torna-se anjo.

Mas não é de Victor Hugo que eu quero falar, nem de dilemas pessoais tão dramáticos.  Quero falar de algo bem mais simples:  a janela aberta e o frio causado (?) por ela.  Caso você não tenha reparado, leia o trecho de novo.  No sonho, Jean está do lado de fora da casa, na rua, mas diz que sente frio por causa da janela aberta da vizinha, o que é completamente sem sentido.

A homofobia é isso.  É sentir frio por causa de uma janela aberta num lugar onde você não está.  Por que a janela alheia deveria lhe incomodar?  Por que o seu vizinho deveria fechá-la?  Se ele sente frio ou se gosta do vento não lhe diz respeito.

Deixe que seus vizinhos abram suas janelas.  Isso não diz respeito a você.

Obs.:  Esse post foi escrito em homenagem ao Dia Internacional Contra a Homofobia, que foi ontem, 17 de maio.  Infelizmente, só consegui postar hoje.

Um comentário:

  1. Gostei da analogia!
    Mas percebo que muitos preconceitos na verdade significam incômodos, talvez uma pontinha de inveja... Não aquela coisa rasa de "não gosta de homossexual então no fundo é um enrustido", mas uma questão maior, relacionada à coragem de se assumir indo contra a correnteza do socialmente aceitável, à liberdade que isso pode representar para quem o faz. Quem se incomoda com a janela alheia muitas vezes pode ter uma vontade louca de também abrir outras janelas, mas não consegue, e aí de uma certa forma tenta se justificar desqualificando quem consegue...

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