"Só, sem caminho certo e muito inquieto de mente" Lorenzo Lotto

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Fórum Estadual Contra a Violência Contra as Mulheres

Na quinta-feira passada (12/05/2011), fui ao lançamento do Fórum Estadual Contra a Violência Contra as Mulheres, que ocorreu no auditório do Sindipetro do Rio de Janeiro.  Vou relatar um pouquinho do que foi.

Começou com um pouco de atraso, pois houve um problema de agenda e havia uma outra discussão (quase só de homens) acontecendo no local.  Aliás, um ambiente predominantemente masculino esse do petróleo (de sindicatos também, embora um pouco menos).  Ficamos sabendo, inclusive, que a única diretora mulher do Sindipetro teve que peitar o "não" inicial, para que esse evento pudesse ocorrer lá.  Enfim, só para o evento ocorrer, já foram 2 pequenos embates:  o de agendar o local e o de ocupar o espaço (a gente foi entrando todas juntas e sentando e, com isso, forçando a barra para que eles cedessem o lugar).

Eu cheguei como peixe fora d'água, porque não conhecia ninguém, não conheço o que tem sido feito na área, nem sei no que efetivamente posso vir a contribuir.  Mas violência contra a mulher me afeta por saber que atinge outras mulheres diariamente, e porque já fui atingida pessoalmente.  Continuo sem saber se e no que poderia vir a contribuir, afora os pequenos embates do dia a dia.  Mas, embora eu não tenha me manifestado nem conversado com ninguém (gente tímida é assim:  demora a se enturmar), conheci um pouquinho dos problemas reais a serem enfrentados, e com o tempo, espero conhecer mais e mais sobre as pessoas que estão lá à frente do fórum.

Eram 5 palestrantes mediadas pela Iara Amora (Camtra - Casa da Mulher Trabalhadora):  Ana Paula Sciammarela (AMB - Articulação Mulheres Brasileiras), Luciene Lacerda (Fórum de Mulheres Negras), Yume Tako (ANEL - Assembléia Nacional das Estudantes Livres/ DCE UFRJ), Gesa (SEPE) e Virgínia Figueiredo (Liga Brasileira de Lésbicas).

Gostei muito da fala da Ana Paula, que versou sobre o papel das Defensorias no encaminhamento das denúncias de violência doméstica, o desmonte dos Núcleos Estaduais de Defesa da Mulher e como o acompanhamento das vítimas nas audiências ficou prejudicado, a postura de juízes no tratamento desses casos, o despreparo dos policiais, a falta de Delegacias especializadas no interior do estado, e a desvirtuação da Lei Maria da Penha.

Em seguida, falou a Luciene sobre as questões cumulativas que recaem sobre a mulher negra:  o duplo preconceito, a dupla opressão.  No final do evento, ela lembrou de cuidarmos de não culpabilizar somente a oprimida quando ela reproduz o padrão vigente.

Depois foi a vez da Yume abordando a questão dos estupros e assédios (morais e sexuais) sofridos por estudantes, tanto nas universidades quanto nos colégios.  A gravidez precoce e seus desdobramentos como a evasão escolar, falta de creches nas escolas, violência no parto, entre outros também foram elencados.

A Gesa focou na questão dos direitos da mulher idosa, de como o velho é tratado na nossa sociedade como feio e descartável, com a mulher sofrendo ainda mais devido aos estereótipos de beleza.  Foi apontada a diferença entre o tratamento dado aos relacionamentos de uma mulher mais velha com um homem mais moço, e o contrário.  Adorei quando ela disse "Mulher faz sexo até morrer".  E gosta, eu acrescentaria.  Citou também que muitas idosas acabam retirando as queixas por agressões cometidas por filhos e netos.

A Virgínia arrasou e foi aplaudida efusivamente pela platéia, especialmente quando destacou que a recente decisão do STF beneficia as LBT com dinheiro, mas não muda quase nada na vida das pobres.  Eu, que tinha comemorado a decisão, parei pra pensar e, realmente, se você for ver os direitos conseguidos é basicamente uma questão financeira.  Pobre não tem quase nada pra deixar de herança, muitas vezes não tem emprego formal com o que garantir pensão, nem condições de solicitar financiamento.  Ela também alertou para a falta de dados específicos sobre mulheres lésbicas, seja na saúde, na educação, ou nas estatísticas policiais.  Nos fez atentar para o fato de que violência gratuita é produto da sociedade.

Enfim, foi um evento bastante plural e gostei muito disso.  Uma companheira da platéia pediu para que abordássemos futuramente as questões das mulheres deficientes, dando como exemplo o fato de que não existe cadeira ginecológica para deficientes (gente, nunca pensei nisso!).  Tem mesmo que trazer essas pessoas, pois cada uma é que sabe onde seu calo aperta, mas todas juntas talvez possamos provocar a mudança.  Espero que nos próximos eventos, também venha alguém da CUFA (Central Única de Favelas).

Só lamento não ter podido ficar até o fim para assistir o grupo de meninas de hip-hop.

ATUALIZAÇÃO:  A Iara Amora da Camtra, que foi mediadora na mesa, gentilmente enviou-me os nomes das palestrantes e as organizações às quais elas são vinculadas.

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