"Só, sem caminho certo e muito inquieto de mente" Lorenzo Lotto

sábado, 3 de dezembro de 2011

Capitalismo Parasitário - Parte I

Acabei de ler Capitalismo Parasitário, um livro de Zygmunt Bauman, o primeiro que leio dele.  Gostei do livro, e da forma como o autor expõe.  Lerei outros livros dele.  Somei à minha lista do Skoob também os livros que ele cita no decorrer dessa obra.

A ideia central do livro não é nova.  O autor recorda que Rosa Luxemburgo sustentava que a acumulação capitalista não sobrevive sem explorar economias "não capitalistas".  Ele atualiza essa noção e dá nome a ela (o título do livro):

"Sem meias palavras, o capitalismo é um sistema parasitário.  Como todos os parasitas, pode prosperar durante certo período, desde que encontre um organismo ainda não explorado que lhe forneça alimento.  Mas não pode fazer isso sem prejudicar o hospedeiro, destruindo assim, cedo ou tarde, as condições de sua prosperidade ou mesmo de sua sobrevivência."

Ele aplica essa visão à atual crise econômica mundial, mostrando que sua origem (as hipotecas subprime nos EUA) está nessa forma "parasitária" de agir por parte de quem detém o poder econômico.  No caso, ao invés de economias não capitalistas, como previsto por Rosa Luxemburgo, quem fez o papel de hospedeiro foram os cidadãos "desprovidos dos requisitos necessários à concessão de um empréstimo", aos quais foi prometida/vendida uma prosperidade irreal adquirida através de empréstimos.

Depois que esse hospedeiro foi destruído (suas casas foram tomadas), parece-me que o hospedeiro atual é o Estado.  Embora eu não creia que o Estado venha a ser destruído, a população trabalhadora dos países em crise tem sido bastante afetada.

Volto agora a ler Os Miseráveis, mas vou fazer pelo menos mais um post sobre esse livro do Zygmunt.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Femina e a origem do caos

Hoje assisti à palestra de Debora Breder no Femina, Festival Internacional de Cinema Feminino, que está ocorrendo ontem, hoje e amanhã, no Rio de Janeiro.  Ela é antropóloga e eu sou uma leiga nessa questão, então é bem possível que eu cometa algum equívoco seja em conceitos ou no que eu entendi/interpretei do que ela disse.  Mas, enfim, eu quero mesmo é falar sobre como a palestra dela me atingiu.

A palestra dela abordou a questão da simbologia, de como o feminino é simbolizado no discurso inconsciente, com foco em como esse simbolismo é mostrado no audiovisual, em particular na obra do cineasta Cronenberg, diretor de obras como "A Mosca", "Gêmeos, Mórbida Semelhança", "Filhos do Medo" e "Enraivecida na Fúria do Sexo".  Tem todo um conceito antropológico do simbolismo, que percebi como aqueles conceitos culturais que são mais profundamente enraizados, dos quais muitas vezes nem tomamos consciência.

Foi bastante interessante e angustiante perceber como o feminino, em todos os filmes discutidos, era sempre a origem da desordem, a origem do caos.  E sempre que o feminino real (a personagem feminina em si) se afastava, de uma forma simbólica, do feminino conceito (o ideal de mulher da sociedade patriarcal ocidental), uma catástrofe ocorria.  Mas, ao mesmo tempo, quando o feminino se excedia no próprio conceito do feminino (a geração da vida, a ligação com a terra, com a natureza), também ocorria uma desgraça.

Ou seja, a mulher precisa sempre ser contida no padrão que o status quo nos reservou, caso contrário traremos o apocalipse.  Sempre, sempre uma mensagem de "não saia do caminho determinado", um eterno joguinho de perde-perde ao qual estamos submetidas, onde qualquer escolha é errada.

E mesmo quando não saímos do script, ainda assim temos nossa parcela de culpa. Exemplo:  na maioria das vezes, quando um cientista se apaixona por uma mulher, algo dá muito, muito errado - a mulher é a perdição, a tentação, a origem do mal.  Ou seja, não há saída.

Então, quando ela citou que, na Idade Média, um dos critérios para se identificar uma bruxa era a amenorréia (falta da menstruação), eu imediatamente lembrei de já ter recebido inúmeras vezes um pensamento de que "a mulher é um bicho perigoso, pois sangra todo mês e não morre".  Veja que não importa se ela, a mulher, sangra ou não.  Em qualquer hipótese, ela é perigosa, precisa ser contida, controlada, estar sob vigia e até mesmo ser queimada viva.

Outro exemplo desse eterno perde-perde:  O stauts de símbolo sexual é das louras.  Sim, você vai me apontar dezenas de lindas mulheres não louras.  Mas repare nos anúncios.  Sem medo de errar, eu diria que cerca de 70% das modelos dos comerciais são louras.  Então toca as mulheres para o salão para pintar os cabelos (e 80% das que eu conheço pintam clareando), ficando cada vez mais louras e, portanto, mais próximas do padrão de beleza estabelecido.  Beleza!  Você foi ao salão e agora é oficialmente loura!  Então agora você é o quê?  Burra!  Porque toda loura é burra, não é mesmo?  Porque você não pode ser ao mesmo tempo bela e inteligente.  Precisa escolher!  E ao escolher... perde!  Ou carrega o estigma de não estar dentro do padrão de beleza, ou vai ter que aturar piadinhas de loura burra cotidianamente.

Quer mais um exemplo?  O salto alto.  Dizem que uma mulher fica mais bonita usando salto alto, mais sexy.  Mas, ao mesmo tempo, já ouvi homem dizendo que "mulher com salto ponto 8 com toda certeza é puta".  E não vou nem falar das dores causadas pelo salto, dores necessárias para ficar bela, dores exigidas em diversas profissões.

O quê?  Você queria ser bela sem sofrer?  Não!  Precisa escolher.  E ao escolher um, necessariamente perde algo (nem que seja o seu tempo).  Não é que eu queira todos os bônus sem qualquer ônus.  A questão é que esses ônus de que falei são fabricados.  Eles não são reais, são culturais.  É muito claro isso na questão das louras.  Essa burrice das louras só surge a partir do momento em que ela é tida como símbolo sexual.  É um ônus (a burrice) totalmente construído culturalmente.  E através de quê?  Das inocentes piadinhas.  E mesmo quando o ônus de fato é real (caso das dores causadas pelo salto), aí é o bônus que é fabricado!

E não é que homens (e mulheres) fiquem maquiavelicamente pensando em como compensar um bônus com um ônus.  Não.  A questão é que a inferiorização da mulher está tão entranhada na nossa mente, no nosso discurso, que acredito que fazemos esse tipo de coisa inconscientemente. De algum jeito, o discurso encontra uma forma de inferiorizar.  Sim, eu sei que discursos não são autônomos, existem pessoas por trás deles.  Mas, como disse, não acredito que seja planejado.  Não sou estudiosa do assunto e não saberia precisar de que forma isso acontece, mas penso que a cultura de inferiorização da mulher, na qual estamos todos imersos, é que nos impele a isso.  Talvez uma espécie de Síndrome de Estocolmo generalizada, na qual acabamos validando o próprio discurso que nos oprime.

Falou-se sobre muitos outras formas como somos apresentadas nas diversas mídias, como o parto ser sempre um sofrimento imenso nas nossas novelas (não deve ser à toa tantas cesarianas no Brasil), ou loucas teses médicas sobre não podermos estudar senão afetaríamos nossa fertilidade (oi?), entre muitos outros pontos.  Mas isso fica para outras postagens.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Homofobia e a janela aberta

"Eu estava em uma campina, era uma campina grande e triste onde não havia vegetação alguma, e não me parecia ser nem dia, nem noite.
Eu passeava com meu irmão (...).
Conversávamos e encontrávamos outros passantes.  Falávamos de uma vizinha que tínhamos antigamente, e que, desde que morava naquela rua, trabalhava sempre com a janela aberta.  Ao mesmo tempo que conversávamos, sentíamos frio por causa da tal janela aberta."

Esse texto contém uma idéia que ilustra bem o que eu penso da homofobia, bem como de vários outros preconceitos.  Não que esse tenha sido o objetivo do autor.  É só um sonho.  Esse trecho é o início do sonho de Jean Valjean, personagem principal do clássico memorável de Victor Hugo, Os Miseráveis, que estou finalmente lendo agora.  Jean tem esse sonho no momento em que tenta decidir se faz a coisa certa ou se protege a si mesmo.  Ou, em suas palavras, se fica no paraíso e torna-se demônio, ou se volta para o inferno e torna-se anjo.

Mas não é de Victor Hugo que eu quero falar, nem de dilemas pessoais tão dramáticos.  Quero falar de algo bem mais simples:  a janela aberta e o frio causado (?) por ela.  Caso você não tenha reparado, leia o trecho de novo.  No sonho, Jean está do lado de fora da casa, na rua, mas diz que sente frio por causa da janela aberta da vizinha, o que é completamente sem sentido.

A homofobia é isso.  É sentir frio por causa de uma janela aberta num lugar onde você não está.  Por que a janela alheia deveria lhe incomodar?  Por que o seu vizinho deveria fechá-la?  Se ele sente frio ou se gosta do vento não lhe diz respeito.

Deixe que seus vizinhos abram suas janelas.  Isso não diz respeito a você.

Obs.:  Esse post foi escrito em homenagem ao Dia Internacional Contra a Homofobia, que foi ontem, 17 de maio.  Infelizmente, só consegui postar hoje.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O circo - Parte 1 de 4

Na semana passada, vi o filme Água para Elefante e queria falar um pouco sobre ele.  Não tenho interesse em avaliar a atuação da Reese Whiterspoon ou do Robert Pattinson, ou de quem quer que seja.  Queria, sim, falar um pouquinho sobre o que foi mostrado ali.  Quatro aspectos me chamaram a atenção:  o tratamento dado aos animais, aos empregados e às mulheres, bem como a questão do protagonista voltar ao circo no fim da vida.

Não vou conseguir falar de tudo num post só, ou ele ficaria imenso, portanto vou dividi-lo em 4 partes, sendo essa primeira sobre o tratamento de animais em circos.

Quando eu era criança, fui algumas vezes ao circo.  Hoje, no Rio de Janeiro, os circos são proibidos de realizar apresentações com animais.  Mesmo o espetáculo de Beto Carrero, quando veio se apresentar aqui, não trouxe os animais.  Mas, no meu tempo de criança, todos de que me lembro ter visto tinham animais.  Eram apresentações fascinantes, e eu gostava muito.

Gostava até saber como se consegue treinar animais, principalmente os selvagens.  Grandes felinos têm presas e garras serradas ou arrancadas, e levam muitas pancadas na cabeça.  Elefantes são treinados com queimaduras, e por aí vai.  Os animais são diuturnamente torturados.

No filme, o tratamento dispensado aos animais é tratado com realismo e crueza.  Eu chorei.  No entanto, no final do filme, há uma escorregada feia e fica a impressão de que os maltratos eram praticados apenas por aquele dono de circo, porque ele era mau, ou perturbado.  Essa é uma impressão errônea.  É mais fácil personalizar o mal em uma pessoa má, ou um grupo.  Mas a realidade não é essa.  Em todo circo com animais selvagens, eles são maltratados, a começar pelo fato de ficarem enjaulados permanentemente.

É possível encontrar na internet documentários sobre como é a realidade desses animais.  Algumas poucas ONG recebem animais selvagens oriundos de circo, como o Rancho dos Gnomos em São Paulo.  Poucos estados hoje no Brasil proíbem a utilização de animais de circo.  O Rio de Janeiro felizmente é um deles, e espero que o país todo se conscientize.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Fórum Estadual Contra a Violência Contra as Mulheres

Na quinta-feira passada (12/05/2011), fui ao lançamento do Fórum Estadual Contra a Violência Contra as Mulheres, que ocorreu no auditório do Sindipetro do Rio de Janeiro.  Vou relatar um pouquinho do que foi.

Começou com um pouco de atraso, pois houve um problema de agenda e havia uma outra discussão (quase só de homens) acontecendo no local.  Aliás, um ambiente predominantemente masculino esse do petróleo (de sindicatos também, embora um pouco menos).  Ficamos sabendo, inclusive, que a única diretora mulher do Sindipetro teve que peitar o "não" inicial, para que esse evento pudesse ocorrer lá.  Enfim, só para o evento ocorrer, já foram 2 pequenos embates:  o de agendar o local e o de ocupar o espaço (a gente foi entrando todas juntas e sentando e, com isso, forçando a barra para que eles cedessem o lugar).

Eu cheguei como peixe fora d'água, porque não conhecia ninguém, não conheço o que tem sido feito na área, nem sei no que efetivamente posso vir a contribuir.  Mas violência contra a mulher me afeta por saber que atinge outras mulheres diariamente, e porque já fui atingida pessoalmente.  Continuo sem saber se e no que poderia vir a contribuir, afora os pequenos embates do dia a dia.  Mas, embora eu não tenha me manifestado nem conversado com ninguém (gente tímida é assim:  demora a se enturmar), conheci um pouquinho dos problemas reais a serem enfrentados, e com o tempo, espero conhecer mais e mais sobre as pessoas que estão lá à frente do fórum.

Eram 5 palestrantes mediadas pela Iara Amora (Camtra - Casa da Mulher Trabalhadora):  Ana Paula Sciammarela (AMB - Articulação Mulheres Brasileiras), Luciene Lacerda (Fórum de Mulheres Negras), Yume Tako (ANEL - Assembléia Nacional das Estudantes Livres/ DCE UFRJ), Gesa (SEPE) e Virgínia Figueiredo (Liga Brasileira de Lésbicas).

Gostei muito da fala da Ana Paula, que versou sobre o papel das Defensorias no encaminhamento das denúncias de violência doméstica, o desmonte dos Núcleos Estaduais de Defesa da Mulher e como o acompanhamento das vítimas nas audiências ficou prejudicado, a postura de juízes no tratamento desses casos, o despreparo dos policiais, a falta de Delegacias especializadas no interior do estado, e a desvirtuação da Lei Maria da Penha.

Em seguida, falou a Luciene sobre as questões cumulativas que recaem sobre a mulher negra:  o duplo preconceito, a dupla opressão.  No final do evento, ela lembrou de cuidarmos de não culpabilizar somente a oprimida quando ela reproduz o padrão vigente.

Depois foi a vez da Yume abordando a questão dos estupros e assédios (morais e sexuais) sofridos por estudantes, tanto nas universidades quanto nos colégios.  A gravidez precoce e seus desdobramentos como a evasão escolar, falta de creches nas escolas, violência no parto, entre outros também foram elencados.

A Gesa focou na questão dos direitos da mulher idosa, de como o velho é tratado na nossa sociedade como feio e descartável, com a mulher sofrendo ainda mais devido aos estereótipos de beleza.  Foi apontada a diferença entre o tratamento dado aos relacionamentos de uma mulher mais velha com um homem mais moço, e o contrário.  Adorei quando ela disse "Mulher faz sexo até morrer".  E gosta, eu acrescentaria.  Citou também que muitas idosas acabam retirando as queixas por agressões cometidas por filhos e netos.

A Virgínia arrasou e foi aplaudida efusivamente pela platéia, especialmente quando destacou que a recente decisão do STF beneficia as LBT com dinheiro, mas não muda quase nada na vida das pobres.  Eu, que tinha comemorado a decisão, parei pra pensar e, realmente, se você for ver os direitos conseguidos é basicamente uma questão financeira.  Pobre não tem quase nada pra deixar de herança, muitas vezes não tem emprego formal com o que garantir pensão, nem condições de solicitar financiamento.  Ela também alertou para a falta de dados específicos sobre mulheres lésbicas, seja na saúde, na educação, ou nas estatísticas policiais.  Nos fez atentar para o fato de que violência gratuita é produto da sociedade.

Enfim, foi um evento bastante plural e gostei muito disso.  Uma companheira da platéia pediu para que abordássemos futuramente as questões das mulheres deficientes, dando como exemplo o fato de que não existe cadeira ginecológica para deficientes (gente, nunca pensei nisso!).  Tem mesmo que trazer essas pessoas, pois cada uma é que sabe onde seu calo aperta, mas todas juntas talvez possamos provocar a mudança.  Espero que nos próximos eventos, também venha alguém da CUFA (Central Única de Favelas).

Só lamento não ter podido ficar até o fim para assistir o grupo de meninas de hip-hop.

ATUALIZAÇÃO:  A Iara Amora da Camtra, que foi mediadora na mesa, gentilmente enviou-me os nomes das palestrantes e as organizações às quais elas são vinculadas.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Post inaugural

Olá, este é meu post inaugural, e vou falar um pouquinho de mim e da intenção do blog.

Foi difícil escolher o nome do blog, mas creio ter conseguido um que diz muito sobre esta autora.  Tenho uma mente inquieta e uma paixão pelo mar.

Sou carioca, geminiana, 36 anos e... o que mais posso dizer de mim?  Sou curiosa, questionadora, adoro expor e debater idéias.  Como boa geminiana, sou dispersa, eclética e cheia de dualidades.  Amo minha cidade e não me vejo morando em outro lugar.  Se eu acreditasse em reencarnação (já disse que sou atéia?), e me fosse dado o direito de escolher onde nascer de novo, resposta pronta:  Brasil, Rio de Janeiro.  Mesmo reconhecendo todas as suas mazelas, não pensaria duas vezes.  Mas adoro conhecer outras culturas, seja através de pessoas, viagens, leituras, filmes ou sabores.

A idéia do blog é expressar opiniões.  Não sou especialista em nada, então se você espera montes de referências e dados sobre o que quer que seja, errou de blog.  O blog vai expor a minha visão de vida, minhas opiniões sobre o que acontece à minha volta, sobre o que li, vi ou escutei.  Sinta-se livre para contestar (mas não para trollar!).

Ainda estou escolhendo a cara do blog e arrumando a casa.  Mas seja bem-vindo!